Matheus Mamede, 12 anos, nasceu com o sonho de ser jogador de futebol. Assim como milhões de crianças pelo mundo, teve na bola o brinquedo preferido e a ferramenta para mostrar o toda a habilidade que lhe é peculiar. Junto com o sonho de brilhar em campo e nas quadras, Mamede também nasceu um uma perda auditiva severa no ouvido esquerdo, ouvindo apenas 25%, e, no direito, uma surdez absoluta. A dificuldade que, em muitos casos, poderia barrar o objetivo do adolescente, tornou Mamede referência no que faz. O esforço para superar as dificuldades, aliado à naturalidade nos movimentos com a bola fizeram com que o garoto se destacasse no futsal do GER Esportes, clube parceiro do Instituto Todos. O exemplo de Mamede rompeu os limites da instituição e foi veiculada pela TV Globo. A reportagem, na íntegra, pode ser conferida abaixo.
Com capacete à la Petr Cech, garoto dribla surdez e sonha ser jogador de futebol
Mamede, 12 anos, nasceu com audição comprometida e implante que o ajuda a escutar é protegido por capacete igual ao do goleiro tcheco; ele chama atenção pelo estilo e pela habilidade
José Matheus Mamede Leite da Costa tem 12 anos e dois sonhos: ser jogador profissional de futebol e futsal. Na categoria infantil, o menino ainda não precisa escolher um deles – treina seis vezes na semana: dois dias de futsal, dois dias de futebol de sete e dois dias de futebol de campo. A história do garoto poderia se encaixar em qualquer outra criança da idade, não fosse o fato de Mamede, como gosta de ser chamado, ter nascido com perda total de audição do ouvido direito e com apenas 25% da audição do ouvido esquerdo.
Quem o vê jogando ou treinando, logo associa o pequeno atleta ao goleiro tcheco Petr Cech, do clube inglês Arsenal. Não pela posição em campo ou em quadra, mas pelo capacete que usa para proteção. Diferentemente do famoso arqueiro, que usa o capacete em virtude de uma fratura craniana ocasionada num jogo de futebol, Mamede utiliza o adereço para proteger o seu implante coclear, que o acompanha desde os quatro anos.
“A perda de audição dele não interfere em nada dentro de quadra. Ele é extremamente atento e se comunica de diversas maneiras com os companheiros da equipe. É importante que os demais meninos do grupo tenham essa convivência com as diferenças e percebam que não é uma limitação quando se quer algo”, afirmou um dos treinadores de Mamede no futsal, Nathan Figueiredo.
O implante coclear é um dispositivo que pode ser utilizado por pessoas que têm perda auditiva severas ou profundas. É um equipamento implantado cirurgicamente atrás da orelha, por dentro do couro cabeludo, e que também conta com uma parte externa, que fica aparente, composta por um processador de fala, uma antena transmissora e um microfone. Com o implante, Mamede teve grande parte da audição do ouvido direito recuperada, conseguindo compensar a perda de 75% do ouvido esquerdo e possibilitando ao menino conhecer o mundo dos sons.
Outro universo que pôde ser descoberto pelo garoto foi o do futebol, tendo o primeiro contato com o esporte nas ruas da cidade de Carpina, Zona da Mata Norte de Pernambuco, onde mora. Numa ocasião em que jogava nas vias, foi visto por um amigo do seu pai que, achando o menino habilidoso, o levou para conhecer o Gol de Letra, equipe de futebol de sete da cidade.
– Ele (Mamede) começou a jogar mesmo há dois anos, quando foi para o Gol de Letra. De lá para cá, só evoluiu, seja na socialização com outras crianças, seja no futebol, em todos os aspectos -, afirmou Moisés, pai, orgulhoso de Mamede.
Devido à perda de audição, que só foi parcialmente recuperada perto dos quatro anos, Mamede tem algumas dificuldades na fala e na percepção das conversas entre seus colegas, mas nada que comprometa seu desempenho com a bola.
Em 2018 o menino foi Campeão Pernambucano, Regional e Brasileiro de Futebol de sete na categoria sub-11. Perguntado em quem se inspira, ele não hesita.
“Neymar! Eu gosto muito dele, fico vendo ele jogar e querendo fazer igual”
Para seguir os caminhos do ídolo, o menino iniciou as atividades neste ano na equipe de futsal do GER Esportes, que abriu uma filial no Recife. Lá, tem desempenho destacável, uma vez que mesmo jogando com meninos mais velhos, Mamede não se intimida e consegue demonstrar habilidade.
Buscando o sonho, o garoto vem de Carpina duas vezes na semana para treinar, dificuldade esta que é apenas mais uma solucionada pela criança que tem expertise em superar limites